Como nos tornamos humanos? Esta interrogação anima as ciências humanas, mas elas, observa Ricoeur, se dispersam em múltiplas disciplinas e tornam o homem um espelho quebrado; daí a urgência de uma antropologia filosófica com uma história mais antiga, mas rica ainda de recursos insubstituíveis. Isso não o impede de dialogar com a psicanálise, a história, a sociologia, a etnologia ou as ciências da linguagem, e de desenvolver uma reflexão atual e aberta, pois não há uma resposta simples à questão: o que é o homem? Ricoeur exprime essa complexidade por meio das tensões “voluntário” e “involuntário”, “agir” e “sofrer”, “autonomia” e “vulnerabilidade”, “capacidade” e “fragilidade”, “identidade” e “alteridade”. Os textos aqui recolhidos oferecem uma visão de conjunto da proposta filosófica de Paul Ricoeur, desde a conferência sobre a “atenção”, pronunciada em 1939, até o discurso de recepção do prêmio Kluge sobre as “capacidades pessoais e o reconhecimento mútuo”, redigido em 2004, alguns meses antes de sua morte.