O grande mal que sofre uma alma desanimada é que, iludida por um temor excessivo que lhe disfarça os verdadeiros princípios, abatida pela vista das dificuldades contra as quais não acha em si mesma recurso algum, ela não considera esse estado como uma tentação. Se o encarasse sob esse ponto de vista, desconfiaria das razões que o alimentam e, assim, sairia dele bem mais cedo e mais facilmente.
Bem certo é, entretanto, que se trata de uma tentação bem definida; porque todo sentimento que é oposto à lei de Deus, seja em si mesmo ou pelas consequências que pode ter, evidentemente é uma tentação. Se nos vem um pensamento contra a Fé, um sentimento contra a Caridade, ou contra alguma outra virtude, consideramo-lo como uma tentação, desviamo-nos dele, e aplicamo-nos a produzir atos opostos a esse pensamento ou sentimento que nos põe em perigo de ofender a Deus.
Ora, a Esperança e a confiança em Deus é tão mandada quanto a Fé e as outras virtudes. O sentimento que vai contra a Esperança é, pois, tão proibido quanto o que vai contra a Fé, e contra qualquer outra virtude. É, pois, uma tentação bem caracterizada.