São Jerônimo, personagem eclesiástico eminente pela vida virtuosa e pela tradução da Bíblia para o latim, é uma figura severa, arcaica, pitoresca, ao mesmo tempo em que é um homem santo e asceta cheio de paixão humana, de saber e de prestígio. Entusiasmado por Orígenes, traduziu para o latim algum dos seus escritos. Mas, duzentos anos após o nascimento de Orígenes, a obra torna-se causa de controvérsia entre bispos e clérigos, provocando a inimizade de Rufino, seu amigo desde a juventude. Para defender Orígenes, Rufino traduziu para o latim o texto grego do Tratado sobre os Princípios, corrigindo pontos do texto para torná-los aceitáveis pela fé ortodoxa, falta grave segundo Jerônimo. Rufino endereçou uma apologia contra Jerônimo, acusando-o indiretamente por meio de elogios, dos quais Jerônimo denuncia a falsidade, acusando-o de incriminá-lo. Esta obra faz parte de um prolongado conflito entre Jerônimo e Rufino. É a resposta de Jerônimo, sua autodefesa, uma tarefa não fácil, pelo fato de dispor de quem defendesse sua causa e por ser ela complicada, uma vez que traduziu e estudou Orígenes, colocando Jerônimo numa posição de fragilidade em muitos pontos. A presente obra caracteriza-se como luta contra o estigma de heresia de que era acusado. A obra é instigante: apresenta o ser humano buscando a verdade da fé no furor de um debate com total engajamento.