Warren Carter lê o Evangelho de Mateus como contranarrativa (resistência), mas também como obra de esperança. É texto de resistência enquanto escrito a partir de uma comunidade que procura subsistir diante do status quo dominado pelo poder imperial romano e pelo controle da sinagoga. Constitui, portanto, uma resistência a essas estruturas culturais. Contudo, enquanto constrói uma cosmovisão e forma comunidades alternativas, indicando outro modo de vida resistente, calcado na promessa da vinda de Jesus, que estabelecerá o império de Deus e a salvação de forma definitiva, é um texto de esperança. Segundo Carter, o Evangelho de Mateus dirige--se aos discípulos que vivem em um tempo posterior ao da destruição de Jerusalém por Roma, no ano 70 d.C. Essa derrota é interpretada como castigo divino aos líderes religiosos por extraviarem o povo no ato de rejeitar Jesus, o agente comissionado de Deus ou Cristo. No entanto, tal castigo não é definitivo: Jesus voltará e porá fim à arrogância imperial de Roma, e estabelecerá o império de Deus.